quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

FELIZ NATAL

Boa Noite, nesse ano me aventuro na tarefa de escrever o texto de reflexão da Noite de Natal, pego das mãos da Nelda a possibilidade de descrever alguns sentimentos próprios dessa data, dessa família, das nossas estórias. Para escrevê-lo pensei em ressaltar alguns sentimentos que perpassam a hora do clássico  abraço de “FELIZ NATAL”. Vamos lá:
  Ao trocar abraços, trocamos nossos perfumes, perfumes de pessoas que possuem almas perfumadas. Isso mesmo, nossas almas possuem perfumes, e perfumes capazes de perfumar o outro com o carinho gostoso, aquele quase como abraço de quem amamos com a força da pele. Dizem que as almas só se tocam através de seus perfumes e aquelas que exalam grandes perfumes encantam, conquistam, marcam o outro de maneira tão forte que jamais esqueceremos. O que estou falando não é novidade, Europeus, Indígenas, Africanos, Asiáticos, diferentes povos, em todas as partes do mundo, em praticamente todas as religiões e ritos está presente o perfume como maneira de marcar as benções do amor de deus. Desde o início da humanidade, nós seres humanos, percebemos que as nossas almas possuem perfumes.  A bíblia ressalta em II Coríntios 2:14-17 ”nós somos para com Deus o bom perfume de Cristo; tanto, nos que são salvos, como nos que se perdem.. Para com este cheiro de morte para morte; para com aquele aroma de vida para vida”.
Que cheiro as nossas almas exalam? Quem elas perfumaram? Quem elas estão perfumando?
Que cheiro bom sinto aqui, obrigado pela minha alma compartilhar tantos cheiros e se imbricar nessas acolhedoras fragrâncias. A minha alma é alegre, porque sempre senti cheiro de felicidade das pessoas que me deram as primeiras essências, os primeiros cheiros. Agradeço por estar aqui cercado de pessoas que possuem cheiro de estrelas, cheiro de magia, cheiro de mar, cheiro de paz. Graças a almas perfumadas que a minha percebeu o cheiro do amor e teve certeza que era sua obrigação também exalá-lo. Estar aqui, nesse natal, é porque sempre que estou aqui sinto cheiro de uma casa que guarda alegria. Quando entro numa casa não preciso ver um cachorro para saber que ele esteve ou está li, somente pelo cheiro já reconheço a sua existência. Desculpa o exemplo grosseiro, mas aqui é da mesma forma, percebo a existência da alegria, reconheço que é aqui o lugar que procuro quando quero receber flores perfumadas de carinho. Somente aqui posso ser apenas filho, irmão e amigo, ser somente eu, simplesmente eu, para receber um afago, um cuidado infantil... Confesso que ao lado de vocês saboreio a delícia do toque suave da paz que as suas presenças sopram na minha alma. Aprendemos a trocar olhares, aprendemos que mesmo não nos olhando podemos contar com o simples carinho. Sei que não possuo a destreza, competência e sensibilidade de descrever as essências das nossas almas, assim pedi a ajuda até esse momento à Drummont, pois ao ler o poema Almas perfumadas refleti e saboreei as nossas marcantes estórias.
Tem gente que tem cheiro de passarinho quando canta. De sol quando acorda. De flor quando ri. Ao lado delas, a gente se sente no balanço de uma rede que dança gostoso numa tarde grande, sem relógio e sem agenda.
Ao lado delas, a gente se sente comendo pipoca na praça. Lambuzando o queixo de sorvete. Melando os dedos com algodão doce da cor mais doce que tem pra escolher. O tempo é outro. E a vida fica com a cara que ela tem de verdade, mas que a gente desaprende de ver.
Tem gente que tem cheiro de colo de Deus. De banho de mar quando a água é quente e o céu é azul. Ao lado delas, a gente sabe que os anjos existem e que alguns são invisíveis. Ao lado delas, a gente se sente chegando em casa e trocando o salto pelo chinelo. Sonhando a maior tolice do mundo com o gozo de quem não liga pra isso. Ao lado delas, pode ser Abril, mas parece manhã de Natal do tempo em que a gente acordava e encontrava o presente do Papai Noel.
Tem gente que tem cheiro das estrelas que Deus acendeu no céu e daquelas que conseguimos acender na Terra. Ao lado delas, a gente não acha que o amor é possível, a gente tem certeza. Ao lado delas, a gente se sente visitando um lugar feito de alegria. Recebendo um buquê de carinhos. Abraçando um filhote de urso panda. Tocando com os olhos os olhos da paz. Ao lado delas, saboreamos a delícia do toque suave de sua presença soprando nosso coração.
Tem gente que tem cheiro de cafuné sem pressa. Do brinquedo que a gente não largava. Do acalanto que o silêncio canta. De passeio no jardim. Ao lado delas, a gente percebe que a sensualidade é um perfume que vem de dentro e que a atração que realmente nos move não passa só pelo corpo. Corre em outras veias. Pulsa em outro lugar. Ao lado delas, a gente lembra que no instante em que rimos Deus está conosco, juntinho ao nosso lado.
E a gente ri grande que nem menino arteiro. Tem gente como você que nem percebe como tem a alma perfumada! E que esse perfume é dom de Deus.

Isso mesmo meus caros, sem meias modéstias, compartilho de Drummond, somos almas perfumadas e como é bom perceber esse perfume, como é bom saber que essa fragrância é composta por  um conjunto de essências que aprendi a chamar de família. Que os meus maiores boticários foram os meus pais, sei que eles não aprenderam esse oficio sozinho, tiveram grandes mestres que tenho prazer de poder chamá-los de avós.  . Ao lado delas, a gente se sente chegando em casa e trocando o salto pelo chinelo. Ah como sonhei as maiores tolices do mundo e vocês deixaram eu apenas saborear possibilidades de querer viver. Confessem: quantas noites de Natal, quantos presentes conseguimos trocar nesses nossos encontros de janeiro à janeiro. Como diz Nando Reis “Te amarei de janeiro a janeiro. Até o mundo acabar”.
Enquanto muitos estão nessa noite procurando um sentido para ficar acordados, esperando presentes de um Papai Noel, confesso que descobri que eu estou aqui apenas para celebrar os melhores abraços que recebi durante todos esses dias, meses, anos. Somente me perfumo ainda mais nessa noite, somente percebo a minha alma se embriagar das melhores fragrâncias.  Obrigado a todos vocês que  fizeram de mim um apaixonado pelo Natal, de ter o orgulho de sentar e partilhar o alimento, na celebração das melhores coisas que conseguimos construir nas nossas vidas, a nossa amorizidade.


segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Segredo

Qual o segredo do amor? Existe alguma forma? Existe alguma resposta? Mas, afinal, o que faz os seres humanos dedicarem a sua vida a uma paixão, a uma pessoa, a uma luta, a uma escolha. Muitos já pararam, se preocuparam, procurando entender tais questões, mas na sua maioria apenas acabaram com palavras vagas, com fórmulas fantasiosas, com sentimentalismos de livros de autoajuda. Todo o fracasso da procura ocorre porque se quer uma fórmula, montar uma receita de pitadas – um pouco de alegria, uma colher de paciência, dois pacotes de respeito, e tudo isso parece um erro. Não existem fórmulas, não existe receita, não é um quebra-cabeça. O que nos faz ter amor pelas coisas, pela vida, pelo o outro, é o movimento da experiência, da significação. Quase como a argila, isso mesmo, barro moldado. Quando pegamos a argila e procuramos moldá-la, dar forma, apertando de um lado, dando forma no outro, circundando, sentindo, olhando, avaliando, dando forma novamente, puxando, cunhando, rolando pela mão, experimentando formas e não fórmulas e que estamos mais perto do prazer que nos faz diferentes, que nos faz bem, do que nos faz vivo. Mas atenção, não existe fórmulas, assim como também não encontramos formas, ou melhor, fôrmas, apenas temos que nos deliciarmos com o ato de experimentarmos a busca pela cunhagem dos nossos desejos.  Enquanto o barro está mole e é possível moldá-lo, está a aventura, a busca, a magia, a sabedoria, enfim, o prazer. Cuidado, muitos que experimentaram o prazer de perceber a vida como argila, foram enfeitiçados pelo objeto belo, pela criação perfeita, olharam e acharam bom, ficaram contemplando sua criação, porém depois de algum tempo, esquecendo do segredo da argila, tudo ficou seco, apesar de belo, ficou frágil e quebradiço, fugiu das possibilidades das mãos, da capacidade da mudança. Não existem segredos, fórmulas, receitas, mas apenas o movimento de realização, de procura, de criação, talvez nesse momento de cunhagem seja possível nos percebermos realizados. 

- Tenho que voltar a velha mania de guardar as palavras.

- Pensei que podia resolver as coisas com boas idéias.

- Tenho certeza que vou achar no meio dos meus livros coisas inocentemente perdidas.

- tentarei utilizar esse espaço para arquivar as minhas estranhas, engraçadas e confusas frases que insisto em acreditar
- Estou preocupado com o tempo, ele passa totalmente despreocupado comigo. O tempo é tão rápido que não me deixa criar memórias.

- os conceitos estão infinitivamente flexíveis e isso parece ser bom, mas está ficando muito chato conversar.