FELIZ NATAL
Boa Noite, nesse
ano me aventuro na tarefa de escrever o texto de reflexão da Noite de Natal,
pego das mãos da Nelda a possibilidade de descrever alguns sentimentos próprios
dessa data, dessa família, das nossas estórias. Para escrevê-lo pensei em
ressaltar alguns sentimentos que perpassam a hora do clássico abraço de “FELIZ NATAL”. Vamos lá:
Ao trocar abraços, trocamos nossos perfumes,
perfumes de pessoas que possuem almas perfumadas. Isso mesmo, nossas almas
possuem perfumes, e perfumes capazes de perfumar o outro com o carinho gostoso,
aquele quase como abraço de quem amamos com a força da pele. Dizem que as almas
só se tocam através de seus perfumes e aquelas que exalam grandes perfumes
encantam, conquistam, marcam o outro de maneira tão forte que jamais
esqueceremos. O que estou falando não é novidade, Europeus, Indígenas,
Africanos, Asiáticos, diferentes povos, em todas as partes do mundo, em
praticamente todas as religiões e ritos está presente o perfume como maneira de
marcar as benções do amor de deus. Desde o início da humanidade, nós seres
humanos, percebemos que as nossas almas possuem perfumes. A bíblia
ressalta em II Coríntios 2:14-17 ”nós somos para
com Deus o bom perfume de Cristo; tanto, nos que são salvos, como nos que se
perdem.. Para com este cheiro de morte para morte; para com aquele aroma
de vida para vida”.
Que cheiro as nossas almas
exalam? Quem elas perfumaram? Quem elas estão perfumando?
Que cheiro bom
sinto aqui, obrigado pela minha alma compartilhar tantos cheiros e se imbricar
nessas acolhedoras fragrâncias. A minha alma é alegre, porque sempre senti
cheiro de felicidade das pessoas que me deram as primeiras essências, os
primeiros cheiros. Agradeço por estar aqui cercado de pessoas que
possuem cheiro de estrelas, cheiro de magia, cheiro de mar, cheiro de paz.
Graças a almas perfumadas que a minha percebeu o cheiro do amor e teve
certeza que era sua obrigação também exalá-lo. Estar aqui, nesse natal, é
porque sempre que estou aqui sinto cheiro de uma casa que guarda alegria.
Quando entro numa casa não preciso ver um cachorro para saber que ele esteve ou
está li, somente pelo cheiro já reconheço a sua existência. Desculpa o exemplo
grosseiro, mas aqui é da mesma forma, percebo a existência da alegria,
reconheço que é aqui o lugar que procuro quando quero receber flores perfumadas
de carinho. Somente aqui posso ser apenas filho, irmão e amigo, ser somente eu,
simplesmente eu, para receber um afago, um cuidado infantil... Confesso que ao
lado de vocês saboreio a delícia do toque suave da paz que as suas
presenças sopram na minha alma. Aprendemos a trocar olhares, aprendemos
que mesmo não nos olhando podemos contar com o simples carinho. Sei que não
possuo a destreza, competência e sensibilidade de descrever as essências das
nossas almas, assim pedi a ajuda até esse momento à Drummont, pois ao ler o poema Almas
perfumadas refleti e saboreei as nossas marcantes estórias.
Tem gente que tem
cheiro de passarinho quando canta. De sol quando acorda. De flor quando ri.
Ao lado delas, a gente se sente no balanço de uma rede que dança gostoso
numa tarde grande, sem relógio e sem agenda.
Ao lado delas, a
gente se sente comendo pipoca na praça. Lambuzando o queixo de sorvete.
Melando os dedos com algodão doce da cor mais doce que tem pra escolher. O
tempo é outro. E a vida fica com a cara que ela tem de verdade, mas que a
gente desaprende de ver.
Tem gente que tem
cheiro de colo de Deus. De banho de mar quando a água é quente e o céu é
azul. Ao lado delas, a gente sabe que os anjos existem e que alguns são
invisíveis. Ao lado delas, a gente se sente chegando em casa e trocando o
salto pelo chinelo. Sonhando a maior tolice do mundo com o gozo de quem não
liga pra isso. Ao lado delas, pode ser Abril, mas parece manhã de Natal do
tempo em que a gente acordava e encontrava o presente do Papai Noel.
Tem gente que tem
cheiro das estrelas que Deus acendeu no céu e daquelas que conseguimos
acender na Terra. Ao lado delas, a gente não acha que o amor é possível, a
gente tem certeza. Ao lado delas, a gente se sente visitando um lugar feito
de alegria. Recebendo um buquê de carinhos. Abraçando um filhote de urso
panda. Tocando com os olhos os olhos da paz. Ao lado delas, saboreamos a
delícia do toque suave de sua presença soprando nosso coração.
Tem gente que tem
cheiro de cafuné sem pressa. Do brinquedo que a gente não largava. Do
acalanto que o silêncio canta. De passeio no jardim. Ao lado delas, a gente
percebe que a sensualidade é um perfume que vem de dentro e que a atração
que realmente nos move não passa só pelo corpo. Corre em outras veias.
Pulsa em outro lugar. Ao lado delas, a gente lembra que no instante em que
rimos Deus está conosco, juntinho ao nosso lado.
E a gente ri grande
que nem menino arteiro. Tem gente como você que nem percebe como tem a alma
perfumada! E que esse perfume é dom de Deus.
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Isso mesmo meus caros, sem
meias modéstias, compartilho de Drummond, somos almas perfumadas e como é bom
perceber esse perfume, como é bom saber que essa fragrância é composta
por um conjunto de essências que aprendi a chamar de família. Que os meus
maiores boticários foram os meus pais, sei que eles não aprenderam esse oficio
sozinho, tiveram grandes mestres que tenho prazer de poder chamá-los de avós.
. Ao lado delas, a gente se sente chegando em casa e trocando o salto
pelo chinelo. Ah como sonhei as maiores tolices do mundo e vocês deixaram eu
apenas saborear possibilidades de querer viver. Confessem: quantas noites de
Natal, quantos presentes conseguimos trocar nesses nossos encontros de janeiro
à janeiro. Como diz Nando Reis “Te amarei de janeiro a janeiro.
Até o mundo acabar”.
Enquanto muitos estão nessa
noite procurando um sentido para ficar acordados, esperando presentes de um
Papai Noel, confesso que descobri que eu estou aqui apenas
para celebrar os melhores abraços que recebi durante todos esses dias, meses,
anos. Somente me perfumo ainda mais nessa noite, somente percebo a minha alma
se embriagar das melhores fragrâncias. Obrigado a
todos vocês que fizeram de mim um apaixonado pelo Natal, de ter o orgulho
de sentar e partilhar o alimento, na celebração das melhores coisas que
conseguimos construir nas nossas vidas, a nossa amorizidade.