Ainda sobre os dias dos Pais Caminhando, caminhando pela rua, eu e o meu filho, de repente parece que já havia vivido aquilo, aquela velha impressão que todos temos, aquela que o cérebro parece produzir uma memória do presente. Mas quase como um raio, surgiu a visão do meu avô caminhando do meu lado, conversando, contando suas histórias, que até hoje não sei se eram reais, ou se ele criava para me fazer viajar na sua particularidade de perceber e ler o mundo. Meu avô, sempre tinha uma boa história na ponta da língua que me fazia imaginar diferentes possibilidades de compreender as coisas da vida. Mais três passos, ao piscar, já estava do lado do meu pai, em silêncio com as duas mãos no bolso e com um baixo assovio, bateu em mim uma vontade de falar algo, mas não sabia o que falar, pois sempre caminhei do lado do meu pai com um estranho sentimento de ser grande, de admiração. O pai sempre andava de carro e quando saíamos numa caminhada era algo que deveria ser saboreado. Mais alguns passos, ali estava eu com meu filho, no seu rosto um intrigante sorriso de satisfação, de força. Parecia aquela pessoa que conquista algo inusitado, aqueles dias que conquistamos o primeiro beijo, o primeiro boletim sem vermelho, caminhava como uma criança que recebeu a primeira medalha. Sei que é muito provável que esses passos não fiquem na sua memória, mas desejo que um dia ela perceba o prazer de estar do lado, simplesmente do lado, ombro a ombro, com as pessoas que admiramos, amamos, pessoas que não só foram responsáveis por aquilo que temos de bom, mas que ensinam a construir a caixa onde guardamos as nossas melhores emoções. Senti uma forte vontade de pegá-lo no colo, mas compreendi que não podia cortar seus passos pequenos e atentos, passos preocupados para não ficar para atrás, passos de autoridade de quem pode conquistar o mundo. Um vento frio chegou avisando que não poderei firmar os seus passos, podendo apenas continuar saboreando a companhia daqueles que me acompanham e me ensinam a sentir, a me emocionar, enfim percebi que sou meu filho, meu pai, meu avô, na verdade somos aqueles que admiramos. Felipe
Olhares Moventes
Olhares moventes, olhares que se modificam com diferentes olhares nas mesmas ou em novas perspectivas.
sexta-feira, 11 de agosto de 2023
quarta-feira, 24 de dezembro de 2014
FELIZ NATAL
Boa Noite, nesse
ano me aventuro na tarefa de escrever o texto de reflexão da Noite de Natal,
pego das mãos da Nelda a possibilidade de descrever alguns sentimentos próprios
dessa data, dessa família, das nossas estórias. Para escrevê-lo pensei em
ressaltar alguns sentimentos que perpassam a hora do clássico abraço de “FELIZ NATAL”. Vamos lá:
Ao trocar abraços, trocamos nossos perfumes,
perfumes de pessoas que possuem almas perfumadas. Isso mesmo, nossas almas
possuem perfumes, e perfumes capazes de perfumar o outro com o carinho gostoso,
aquele quase como abraço de quem amamos com a força da pele. Dizem que as almas
só se tocam através de seus perfumes e aquelas que exalam grandes perfumes
encantam, conquistam, marcam o outro de maneira tão forte que jamais
esqueceremos. O que estou falando não é novidade, Europeus, Indígenas,
Africanos, Asiáticos, diferentes povos, em todas as partes do mundo, em
praticamente todas as religiões e ritos está presente o perfume como maneira de
marcar as benções do amor de deus. Desde o início da humanidade, nós seres
humanos, percebemos que as nossas almas possuem perfumes. A bíblia
ressalta em II Coríntios 2:14-17 ”nós somos para
com Deus o bom perfume de Cristo; tanto, nos que são salvos, como nos que se
perdem.. Para com este cheiro de morte para morte; para com aquele aroma
de vida para vida”.
Que cheiro as nossas almas
exalam? Quem elas perfumaram? Quem elas estão perfumando?
Que cheiro bom
sinto aqui, obrigado pela minha alma compartilhar tantos cheiros e se imbricar
nessas acolhedoras fragrâncias. A minha alma é alegre, porque sempre senti
cheiro de felicidade das pessoas que me deram as primeiras essências, os
primeiros cheiros. Agradeço por estar aqui cercado de pessoas que
possuem cheiro de estrelas, cheiro de magia, cheiro de mar, cheiro de paz.
Graças a almas perfumadas que a minha percebeu o cheiro do amor e teve
certeza que era sua obrigação também exalá-lo. Estar aqui, nesse natal, é
porque sempre que estou aqui sinto cheiro de uma casa que guarda alegria.
Quando entro numa casa não preciso ver um cachorro para saber que ele esteve ou
está li, somente pelo cheiro já reconheço a sua existência. Desculpa o exemplo
grosseiro, mas aqui é da mesma forma, percebo a existência da alegria,
reconheço que é aqui o lugar que procuro quando quero receber flores perfumadas
de carinho. Somente aqui posso ser apenas filho, irmão e amigo, ser somente eu,
simplesmente eu, para receber um afago, um cuidado infantil... Confesso que ao
lado de vocês saboreio a delícia do toque suave da paz que as suas
presenças sopram na minha alma. Aprendemos a trocar olhares, aprendemos
que mesmo não nos olhando podemos contar com o simples carinho. Sei que não
possuo a destreza, competência e sensibilidade de descrever as essências das
nossas almas, assim pedi a ajuda até esse momento à Drummont, pois ao ler o poema Almas
perfumadas refleti e saboreei as nossas marcantes estórias.
Tem gente que tem
cheiro de passarinho quando canta. De sol quando acorda. De flor quando ri.
Ao lado delas, a gente se sente no balanço de uma rede que dança gostoso
numa tarde grande, sem relógio e sem agenda.
Ao lado delas, a
gente se sente comendo pipoca na praça. Lambuzando o queixo de sorvete.
Melando os dedos com algodão doce da cor mais doce que tem pra escolher. O
tempo é outro. E a vida fica com a cara que ela tem de verdade, mas que a
gente desaprende de ver.
Tem gente que tem
cheiro de colo de Deus. De banho de mar quando a água é quente e o céu é
azul. Ao lado delas, a gente sabe que os anjos existem e que alguns são
invisíveis. Ao lado delas, a gente se sente chegando em casa e trocando o
salto pelo chinelo. Sonhando a maior tolice do mundo com o gozo de quem não
liga pra isso. Ao lado delas, pode ser Abril, mas parece manhã de Natal do
tempo em que a gente acordava e encontrava o presente do Papai Noel.
Tem gente que tem
cheiro das estrelas que Deus acendeu no céu e daquelas que conseguimos
acender na Terra. Ao lado delas, a gente não acha que o amor é possível, a
gente tem certeza. Ao lado delas, a gente se sente visitando um lugar feito
de alegria. Recebendo um buquê de carinhos. Abraçando um filhote de urso
panda. Tocando com os olhos os olhos da paz. Ao lado delas, saboreamos a
delícia do toque suave de sua presença soprando nosso coração.
Tem gente que tem
cheiro de cafuné sem pressa. Do brinquedo que a gente não largava. Do
acalanto que o silêncio canta. De passeio no jardim. Ao lado delas, a gente
percebe que a sensualidade é um perfume que vem de dentro e que a atração
que realmente nos move não passa só pelo corpo. Corre em outras veias.
Pulsa em outro lugar. Ao lado delas, a gente lembra que no instante em que
rimos Deus está conosco, juntinho ao nosso lado.
E a gente ri grande
que nem menino arteiro. Tem gente como você que nem percebe como tem a alma
perfumada! E que esse perfume é dom de Deus.
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Isso mesmo meus caros, sem
meias modéstias, compartilho de Drummond, somos almas perfumadas e como é bom
perceber esse perfume, como é bom saber que essa fragrância é composta
por um conjunto de essências que aprendi a chamar de família. Que os meus
maiores boticários foram os meus pais, sei que eles não aprenderam esse oficio
sozinho, tiveram grandes mestres que tenho prazer de poder chamá-los de avós.
. Ao lado delas, a gente se sente chegando em casa e trocando o salto
pelo chinelo. Ah como sonhei as maiores tolices do mundo e vocês deixaram eu
apenas saborear possibilidades de querer viver. Confessem: quantas noites de
Natal, quantos presentes conseguimos trocar nesses nossos encontros de janeiro
à janeiro. Como diz Nando Reis “Te amarei de janeiro a janeiro.
Até o mundo acabar”.
Enquanto muitos estão nessa
noite procurando um sentido para ficar acordados, esperando presentes de um
Papai Noel, confesso que descobri que eu estou aqui apenas
para celebrar os melhores abraços que recebi durante todos esses dias, meses,
anos. Somente me perfumo ainda mais nessa noite, somente percebo a minha alma
se embriagar das melhores fragrâncias. Obrigado a
todos vocês que fizeram de mim um apaixonado pelo Natal, de ter o orgulho
de sentar e partilhar o alimento, na celebração das melhores coisas que
conseguimos construir nas nossas vidas, a nossa amorizidade.
segunda-feira, 29 de setembro de 2014
Segredo
Qual o segredo do amor? Existe alguma forma? Existe alguma resposta? Mas, afinal, o que faz os seres humanos dedicarem a sua vida a uma paixão, a uma pessoa, a uma luta, a uma escolha. Muitos já pararam, se preocuparam, procurando entender tais questões, mas na sua maioria apenas acabaram com palavras vagas, com fórmulas fantasiosas, com sentimentalismos de livros de autoajuda. Todo o fracasso da procura ocorre porque se quer uma fórmula, montar uma receita de pitadas – um pouco de alegria, uma colher de paciência, dois pacotes de respeito, e tudo isso parece um erro. Não existem fórmulas, não existe receita, não é um quebra-cabeça. O que nos faz ter amor pelas coisas, pela vida, pelo o outro, é o movimento da experiência, da significação. Quase como a argila, isso mesmo, barro moldado. Quando pegamos a argila e procuramos moldá-la, dar forma, apertando de um lado, dando forma no outro, circundando, sentindo, olhando, avaliando, dando forma novamente, puxando, cunhando, rolando pela mão, experimentando formas e não fórmulas e que estamos mais perto do prazer que nos faz diferentes, que nos faz bem, do que nos faz vivo. Mas atenção, não existe fórmulas, assim como também não encontramos formas, ou melhor, fôrmas, apenas temos que nos deliciarmos com o ato de experimentarmos a busca pela cunhagem dos nossos desejos. Enquanto o barro está mole e é possível moldá-lo, está a aventura, a busca, a magia, a sabedoria, enfim, o prazer. Cuidado, muitos que experimentaram o prazer de perceber a vida como argila, foram enfeitiçados pelo objeto belo, pela criação perfeita, olharam e acharam bom, ficaram contemplando sua criação, porém depois de algum tempo, esquecendo do segredo da argila, tudo ficou seco, apesar de belo, ficou frágil e quebradiço, fugiu das possibilidades das mãos, da capacidade da mudança. Não existem segredos, fórmulas, receitas, mas apenas o movimento de realização, de procura, de criação, talvez nesse momento de cunhagem seja possível nos percebermos realizados.
- Tenho que voltar a velha mania de guardar as palavras.
- Pensei que podia resolver as coisas com boas idéias.
- Tenho certeza que vou achar no meio dos meus livros coisas inocentemente perdidas.
- tentarei utilizar esse espaço para arquivar as minhas estranhas, engraçadas e confusas frases que insisto em acreditar
- Estou preocupado com o tempo, ele passa totalmente despreocupado comigo. O tempo é tão rápido que não me deixa criar memórias.
- os conceitos estão infinitivamente flexíveis e isso parece ser bom, mas está ficando muito chato conversar.
- Pensei que podia resolver as coisas com boas idéias.
- Tenho certeza que vou achar no meio dos meus livros coisas inocentemente perdidas.
- tentarei utilizar esse espaço para arquivar as minhas estranhas, engraçadas e confusas frases que insisto em acreditar
- Estou preocupado com o tempo, ele passa totalmente despreocupado comigo. O tempo é tão rápido que não me deixa criar memórias.
- os conceitos estão infinitivamente flexíveis e isso parece ser bom, mas está ficando muito chato conversar.
domingo, 8 de setembro de 2013
A Importância de um Irmão. A família vai crescer
Certa vez, numa
conversa que nem fazia parte, escutei: -
Eu quero dar tudo de bom para o meu filho! Mesmo fora da conversa, aquela frase
gerou um questionamento imediato. Qual foi o melhor presente que ganhei dos
meus pais? Na mesma velocidade, quase como um raio, veio a resposta: MEUS
IRMÃOS. Tive a grande felicidade de ter PAIS corajosos, na verdade muito
corajosos, pois constituíram uma família que para muitos é uma loucura – sete filhos.
Sou grato por essa loucura, porque tudo que sou; todas as alegrias que vivi, os
momentos mais gratificantes, todos os saberes que aprendi, ocorreram na
convivência diária com nove pessoas, que com muita sabedoria, tinham a receita
da amorosa convivência: a partilha. Constitui-me na partilha, por exemplo, a
roupa era minha no período em que me servia, logo após era do meu irmão, o
doce, o bolo, a bicicleta, o carrinho, a chuteira, a bola, o terno, o carro do
pai, as preocupações, o carinho, o dinheiro para ir para festa, o tempo,
os bolinhos de batata, enfim, me
constitui tendo sempre os meus irmãos do lado. Isso é muito importante para
mim, a minha essência está naquilo tudo
que compartilhei com os meus irmãos. Fazendo parte dessa grata loucura, não
poderia furtar a pessoa que mais amo dessa linda experiência, da experiência da
troca, da cumplicidade, da partilha, da família. Sou filho, sou irmão, sou pai.
Agora tenho a grande alegria de dar esse mesmo presente para o meu filho. Isso
mesmo o Murilo, agora é filho e irmão, lá no inicio de maio ele vai começar a
descobrir a alegria de ter um irmãozinho.
domingo, 12 de maio de 2013
Uma tentativa de escrever para minha mãe
Para mim, escrever sobre as mães é muito difícil, por
acreditar que ser mãe, não é instinto, que existem diferentes mães, que existe
um grande abismo, entre mulheres que tiveram e criaram seus filhos e mulheres
que realmente exercitaram a tarefa de ser mãe. A palavra mãe, assim como
liberdade, igualdade, amor, educação, respeito, luta e outras inúmeras palavras
perderam sentido na sociedade atual, pois pessoas e grupos sociais se apropriaram
de discursos e sentimentos para minimizar e confundir seus sentidos até que não
haja mais mobilização e compreensão do que realmente é importante para nossa existência
como individuo subjetivo e objetivo. Exemplo disso: são pessoas que não
conseguem falar da importância de sua mãe sem cair em discursos midiáticos, sem
conseguir fugir do senso comum, como se todas as mães fossem iguais e tivessem
a mesma “divina” dedicação. Sinto muito, mas a minha mãe não descrevo assim,
não vejo a minha mãe igual as outras – nem mais e nem menos – não comparo com
as outras, porém para mim é de extrema importância agradecer não só a sua
dedicação, mas sua sensibilidade de aprender com a vida em construção. Mulher
sem receitas, sem verdades, com um monte de medos e acima de tudo, com monte de
dúvidas de como se deve cuidar de uma vida.
O que ela fez de mais
sensacional foi perceber que cada vida é uma aprendizagem, que cada sujeito
precisa de experiências amorosas para se constituir um ser com olhar atento para
o outro. Não amo minha mãe por acaso, foi ela que me ensinou, mas o mérito maior
não foi ter apenas ensinado, foi perceber a beleza de sujeitos em construção,
de ficar atenta na ânsia das crianças de interagirem com o mundo e com o outro,
de não desperdiçar a possibilidade de ser cada vez melhor no contato com um ser
que precisa dela para se constituir. A minha mãe é assim, sensibilidade aventureira
de criar e recriar sujeitos, de viver e possibilitar experiências, de não
desperdiçar a capacidade de ser melhor na vivência de ser mãe. A minha mãe é
uma grande mulher porque sempre teve a atenção e compromisso com a vida, não só
dos seus filhos, mas com eles aprendeu e ensinou a maior potencialidade de amar
o outro.
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