sábado, 18 de agosto de 2012


Ainda sobre os dias dos Pais


Caminhando, caminhando pela rua, eu e o meu filho, de repente parece que já havia vivido aquilo, aquela velha impressão que todos temos, aquela que o cérebro parece produzir uma memória do presente. Mas quase como um raio, surgiu a visão do meu avô caminhando do meu lado, conversando, contando suas histórias, que até hoje não sei se eram reais, ou se ele criava para me fazer viajar na sua particularidade de perceber e ler o mundo. Meu avô, sempre tinha uma boa história na ponta da língua que me fazia imaginar diferentes possibilidades de compreender as coisas da vida. Mais três passos, ao piscar, já estava do lado do meu pai, em silêncio com as duas mãos no bolso e com um baixo assovio, bateu em mim uma vontade de falar algo, mas não sabia o que falar, pois sempre caminhei do lado do meu pai com um estranho sentimento de ser grande, de admiração. O pai sempre andava de carro e quando saíamos numa caminhada era algo que deveria ser saboreado. Mais alguns passos, ali estava eu com meu filho, no seu rosto um intrigante sorriso de satisfação, de força. Parecia aquela pessoa que conquista algo inusitado, aqueles dias que conquistamos o primeiro beijo, o primeiro boletim sem vermelho, caminhava como uma criança que recebeu a primeira medalha. Sei que é muito provável que esses passos não fiquem na sua memória, mas desejo que um dia ela perceba o prazer de estar do lado, simplesmente do lado, ombro a ombro, com as pessoas que admiramos, amamos, pessoas que não só foram responsáveis por aquilo que temos de bom, mas que  ensinam a construir a caixa onde guardamos as nossas  melhores emoções. Senti uma forte vontade de pegá-lo no colo, mas compreendi que não podia cortar seus passos pequenos e atentos, passos preocupados para não ficar para atrás, passos de autoridade de quem pode conquistar o mundo. Um vento frio chegou avisando que não poderei firmar os seus passos, podendo apenas continuar saboreando a companhia daqueles que me acompanham e me ensinam a sentir, a me emocionar, enfim percebi que sou meu filho, meu pai, meu avô, na verdade somos aqueles que admiramos. 

Felipe

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