É
difícil perceber que as coisas perdem intimidade, até aquelas que um dia foram
muito próximas, algo impressionantemente presente e intenso pode lentamente ou
num piscar de olhos perder intimidade. Sei que esta palavra intimidade é
difícil de ser definida, pois só ocorre na complexidade das relações, e quando
falo relação é a das mais variáveis possíveis. Poderia utilizar a perda da
intimidade no sexo como exemplo dessa reflexão, mas seria um texto muito
sofrido, pois perceber que o sexo da pessoa amada ou que um dia foi amado perde
intimidade e que o toque não revela mais sentimentos é muito angustiante. É
muito comum perdemos intimidade daqueles ou daquilo que nos afastamos, penso no
encontro de dois irmão que viveram intensas aventuras nas suas primeiras e
significativas fazes de vida e agora, adultos, depois de um longo período
distantes, se reencontram e percebem que somente sobrou lembranças e muita
pouca intimidade, muitas histórias antigas e pouco assunto e cumplicidades.
A
distância não precisa ser física, uma viagem, uma separação de anos, uma troca
de cidade, a distância pode ocorrer nas barreiras do cotidiano, impostas ou
postas por aqueles que se aventuram na arte da convivência. O processo de
perda, também não precisa ser lento, como ocorre com muitos casais, que vão
desgastando suas relações e num instante de lucidez percebem não reconhecer o
outro do seu lado – nesse momento o convívio de anos com uma pessoa indiferente
se revela num grande arrepio de estranheza. A intimidade pode ir embora num
passe de mágica, sim, porque a intimidade está intensamente ligado com a
vivência, se você nega o outro de vivenciar algo contigo, saibas que estas perdendo
intimidade. A experiência mais simples que seja, um sorriso, uma história
engraçada, ou não engraçada, quando não é compartilhada deixa cada vez mais
escondido nossa existência, nossa maneira de interagir com as coisas, com as
histórias, com as pessoas.
O grande segredo da intimidade é deixar-se revelar
como somos capazes de nos comunicarmos com tudo que nos rodeia. Não precisamos
gostar ou fazer tudo o que o outro deseja e vivencia, mas precisamos
experimentar experiências que nos leva ao contato com a intimidade, com a
capacidade afetuosa daquele com que estamos trocando experiências. Por isso que
é importante guardamos com carinho todos aqueles que um dia nos foram íntimos,
mesmo depois da perda da intimidade, pois essa pessoa um dia te conheceu na sua
persona intima, percebeu como os
sentimentos passam por dentro de ti. Alguns desses devemos sempre chamar de
amigos, outros apenas guardar com carinho por ter estado perto quando acabamos, querendo ou não, revelando nosso intimo.
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